NOSSO ADEUS

Nadir Ferreira da Silva 02/01/2011 - 20:32:43 Artigos

Fim de jornada, 18 horas do dia 31 de outubro de 1983. Como o sol que hoje por aqui brilhou, amanhã não mais brilhará. Nossa convivência também, em qualquer atividade tem seu início e conseqüentemente terá seu final. Nosso emprego na ferrovia iniciou-se no dia 12 de dezembro de 1949, quando ainda com apenas 15 anos de idade. Ao ingressarmos na ferrovia, um menino tímido e semi-analfabeto, nunca em momento alguns pensávamos que dentro da Empresa fossemos aprender tanto, que graças às oportunidades que a mesma nós ofereceu, hoje 31 de outubro de 1983, com 33 anos e 11 meses de serviços estamos se desligando por motivo de aposentadoria, plenamente satisfeito e consciente de ter cumprido com nosso dever. Não diríamos que não houve dias difíceis e em algumas ocasiões até desesperadores, porém, se for feita uma analise criteriosa, e pensarmos nos dias em que nos se deliciamos com as boas e gratificantes recompensas que obtivemos entre os colegas e amigos ferroviários e as amizades que conseguimos cultivar, somente isto já é o bastante para quando colocarmos nossa cabeça sobre o travesseiro, ter a certeza de que duvida nenhuma paira em nossa consciência e o resultado será de um sono tranqüilo e recompensador. Falar aqui das atribuições que desempenhamos dentro da Empresa, julgamos desnecessárias para a oportunidade, pois as mesmas estão todas arquivadas dentro da memória de cada um, dos que comigo conviveu neste pedaço de minha existência. Acompanhamos a evolução da Empresa, pois quando iniciamos nossa atividade, ainda era a época das saudosas marias fumaças, os vagões na totalidade de madeira, o leito da via quase em sua extensão sobre terra, sua capacidade operacional era reduzida á necessidade de época, os costumes eram outros, seu potencial competia mais em função das precariedades de outros meios de transportes do que sua capacidade ideal e necessária para o atendimento de seus usuários, a segurança no trabalho inexistia, os funcionários no comprimento de seus deveres arriscava suas próprias vida diuturnamente, as leis eram outras, não existia o repouso após as jornadas de trabalho, com isso obrigando em muitos casos a serviços continuo, sem o mínimo de respeito ao ser humano, enfim, era uma Empresa que funcionava nos moldes que a época lhe impunha. O tempo foi passando, novas idéias de uma nova geração, aos poucos foi sendo introduzida, inicialmente com os treinamentos ministrados por professores que não poupavam esforços para transmitir a seus alunos novos métodos de trabalho e também de segurança, a exemplo do saudoso Denizar Miranda, hoje cada empregado é um defensor incontestável da Empresa e consciente de suas obrigações, com isso elevando o nome da mesma dentro do contesto nacional. A evolução se processou e continua, a Empresa adequando seus empregados as necessidades do serviço, distribuindo uniforme a atender as reais exigências do processo da qualidade do trabalho, de uma organização voltada para seus verdadeiros ideais, os quais constituem em atender com precisão e eficiência seus usuários, visando dos mesmos cada vez mais sua confiança em seus serviços, evitando com isso a penetração de concorrentes em sua área de ação. A remodelação é continua de seus imóveis e da via, supressão de ramais deficitários, novos ramais foram concluídos, atendendo zonas produtoras, aquisição de locomotivas diesel, materiais rodantes, incluindo vagões de aço com dupla capacidade, ampliação das oficinas de manutenção, enfim, gradativamente a Empresa se faz presente. E óbvio que ainda existe deficiência, mais haveremos de convir que a RFF/SÁ é a maior empresa de transporte do País, sua remodelação não se pode processar a curto prazo, porém, para nós que estamos ligados a ela há quase 40 anos, sentimos e avaliamos com precisão a pujança e o progresso que se processou nestes últimos anos, assim sendo, aqui congratulamos com toda a chefia pela dedicação e o destino que estão norteando suas atividades dentro do setor ferroviário nacional, notadamente na Sistema Regional Sul (SR – 5). E como não poderia ser diferente, aqui fica nosso abraço a todos os chefes e colegas que conosco conviveu, que Deus os proteja na sua caminhada, a qual como nós, se constitui em elevar bem alto o nome da Empresa a qual nós ofereceu trabalho, segurança, onde conseguimos criar e educar nossos filhos, para que possa usufruir de uma vida digna e de respeito recíproco entre os homens.

Mensagem escrita em 31 de outubro de 1983. Esta mensagem foi escrita quando de minha aposentadoria, daí nunca na época se passava em nossa mente que o desleixo dos governos que seguiram viesse o abandono total das ferrovias, chegando hoje a considerarmos tudo como sucatas e em total abandono do patrimônio ferroviário.... Há quantas saudades do saudoso Juscelino K de Oliveira!!!

Ourinhos agosto 2010 Nadir Ferreira da Silva.

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