HISTÓRIA DA AVÓ (II)

Nadir Ferreira da Silva 05/01/2011 - 23:29:59 Artigos

Quando criança, às vezes pedia para minha avó, para que ela contasse alguma história que ela sabia, desejo nem sempre realizado, pois não era todos os dias que ela estava disposta a narrar algumas. Quando eu solicitava e recebia um não podia desistir, pois a velha de personalidade forte nunca voltava atrás em suas decisões. Certa vez ao solicitar a mesma de bom humor, despreocupada e com seus afazeres em ordem, resolveu me contentar, quando me disse “senta aqui, vou te contar uma história que aconteceu, quando ainda eu tinha pouco mais que tua idade”. Morávamos num lugarejo distante da cidade aproximadamente 10 km. Todos os moradores tinham como trabalho a agricultura, uns dono das terras, outros não, assim sendo, os que não possuíam propriedades, trabalhavam como empregados dos proprietários. Logo de manhã com o movimento dos munícipes para seguir ao trabalho, existia um movimento a mais, após suas saídas, só ficavam as mulheres e crianças. A exemplo dos homens, logo as crianças seguiam para a escola, só retornando após o meio dia. Devido aos poucos moradores, todos se conheciam e os diálogos eram constantes, principalmente, à noite após o jantar, quando se reuniam em frente à igreja para um bate papo descontraído, isto em pouco espaço, pois todos precisava descansar pois a luta do dia seguinte era árdua, considerando o calor e sol muito quente. Conforme havia aquele sítio, também distante dali existia outros, com povoados, e por razões de vizinhança havia certa amizade entre as pessoas residentes em cada lugarejo. Como todos eram casados, automaticamente existiam filhos, os pequeninos até alguns em idade para namoro, ou até casamento. Com essa convivência entre os habitantes dos diversos sítios, as amizades entre eles eram assíduas, e também dos jovens, daí surgindo alguns namoros entre eles. Como a vida reserva muitas surpresas, devemos estar preparados para algo a acontecer, principalmente, com respeito a decisões de nossos filhos. No local, entre os jovens existia um bom rapaz, trabalhador, educado e obediente as leis de Deus. Numa das visitas entre os moradores de um sítio com o outro, acompanhando seus pais vieram os filhos, entre eles uma mocinha, bem falante, educada, alegre e bonita. Como é normal, enquanto os pais conversavam os jovens também tinha seus bate papos. Assim sendo, daquele diálogo entre os jovens, alguns demonstravam algo a mais do que amizade. A tarde, ao se despedir já houve o convite da moça para o rapaz visitar em sua casa, convite aceito de imediato. O pai do rapaz, sitiante bem situado financeiramente, além do sítio possuía uma boa tropa de animais, todos de boa qualidade, bem tratados e de boa presença. O rapaz trabalhou a semana inteira com aquele convite martelando sua mente. Uma noite descansando na frente da casa, lá apareceu o velho e ele aproveitou a ocasião e relatou sua intenção, inclusive estava gostando da moça. Após analisar o velho comentou: “é uma boa família e geralmente boa árvore dá bons frutos”. Sábado após o trabalho, em casa tomou seu banho, arriou seu cavalo, e obedecendo a sua vontade, com permissão do pai rumou-se ao destino que era a casa da moça, a qual distanciava mais ou menos 10 km. Como sua chegada já era esperada, sua acolhida foi com muito afeto e com alegria, pela moça, e também pelos seus familiares. Após o jantar, os jovens sentaram na varanda da casa, e num diálogo franco e serio, onde ficaram se conhecendo melhor. Sabemos que quando a conversa é boa, esquecemos da hora, pois é com aqueles jovens não foi diferente, quando olharam para o relógio já era bem tarde. Em conseqüência disso despediu-se da moça e iniciou o retorno para sua casa. O percurso era em grande parte cercado por mato, em ambos os lados. Sendo uma noite enluarada muito facilitava a visão, inclusive ventava bastante. Viajando despreocupado, analisando sua conversa que tivera, seu cavalo caminhava sob suas ordens, sem problema. Porém, como em tudo não é só felicidade, algo estava para acontecer, daí a distância sobre as margens do leito da estrada estava uma rede branca que se balanceava, o cavalo vendo aquilo já se assustou e não mais querendo passar pelo local, parou e ninguém conseguiu fazer andar. O rapaz, no momento já teve maus pensamentos e lembrou de velhas histórias que os velhos contavam, que era a pratica de conduzir corpos de pessoas que faleciam em rede branca sobre uma vara e dois homens carregavam para o sepultamento. Como havia muita bebida alcoólica nos velórios, em muitas vezes, ao carregarem o corpo, este caia durante o percurso, ficando abandonado. Aquela idéia perturbava sua mente, situação difícil, cavalo estacado sem obediência ao condutor, nada estava podendo fazer. Diante dessa situação, resolveu então procurar outro caminho, mais longe, porém, era a solução Iniciou-se então nova jornada, abandonando aquele local tenebroso. Com a mudança do trajeto da viagem teve um aumento de 6 Km em sua trajetória. Já era madrugada quando chegou em casa. Logo ao levantar narrou a seu pai e irmão o acontecido, a qual foi ironizada pelos presentes, inclusive, dizendo de que se tratava de puramente medo. Não se conformando com aquela situação, resolveu averiguar, afim de que se estabelecesse a verdade . Ao chegar no local onde estava aquela visão, notou-se tratar de uma madeira que havia caído na estrada e após ser consumida pelo fogo, restou as cinzas, que com o vento os galhos das arvores se balançavam e daí em cima daquela cinza dava aquela visão que estava balançando. Verificado o ocorrido chegaram a seguinte conclusão: nossa visão muitas vezes à distancia representa algo diferente, principalmente no período noturno.

Ourinhos novembro 2010 Nadir Ferreira da Silva - Pensador

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