Com 19 anos, no interior do Estado do Rio Grande do Sul, com meus pais vivíamos em uma pacata cidade, meu pai funcionário da prefeitura, lá existia um posto telefônico, através de influências de papai consegui trabalho de telefonista naquele local. Na época a telefonista era a intermediária, pois os usuários solicitavam uma ligação e a telefonista, após a conclusão da ligação entrava em contacto com o solicitante e este usava da linha para suas necessidades de comunicação. O posto funcionava das 6 horas até ás 18 horas, cujo atendimento era feito por mim e mais uma amiga, daí totalizando seis horas de trabalho para cada diariamente. Paralelo ao serviço estudava numa cidade próxima, isto no período noturno, ou seja, das 19 horas ás 23 horas de 2ª a 6ª feira. Éra comum grandes amizades em cidades pequenas, pois todos se conhecem, principalmente se o serviço que prestamos for evidente, no caso um telefone. Era freqüente a presença de pessoas no posto, uns para telefonar e até alguns só para conversar e deixar o tempo passar, atitude está que adorávamos, pois nunca estávamos sós, sempre havia um amigo conosco. Entre essas visitas existia o Moacir, garotão de 13 anos, bom de conversas, quase todos os dias tinha algum telefonema a fazer, pois seu pai possuía um pequeno mercado no lugarejo... Após ser atendido ele ainda ficava um bom tempo conversando comigo, suas estórias e com isso nos riamos muito e o tempo passava rápido no período de trabalho. Não sei por que mais sentia certa simpatia por ele, embora a diferença de idade fosse mais ou menos 6 anos, razão está que em nada impedia que nosso bate papo fosse em igualdade, pois falávamos das nossas intenções para o futuro e com muita esperança de alcançar nossos objetivos, inclusive o desfecho sempre era a vontade de estudar e ser professor. Com 22 anos conclui os estudos, papai aposentou e resolveu morar junto a seus irmãos em outra cidade onde inclusive possuía uma propriedade. Ao chegar à nova morada prestei concurso e tornei-me professora municipal. Moacir na época da nossa mudança tinha 16 anos, continuava seus estudos. Para a cidade que se transferimos distanciava aproximadamente 100 km da localidade onde morávamos antes. Ele ainda continuou morando com seus pais. A cidade em que residimos é turística, pois existem alguns pontos pitorescos, daí a razão que de vez em quando recebe excursões das cidades próximas. Com 26 anos sempre aos domingos e feriados freqüentávamos esses lugares a titulo de lazer, muitas pessoas conhecidas ali se cruzando, daí que quando menos esperava ao passear por uma trilha existente no bosque deparei com o meu velho amigo Moacir, quantas felicidades aflorou aquele encontro, pois havia uns 7 anos que nós não se via. Aquele resto de dia foi muito comemorado por nós, afinal a saudade era imensa. No dia seguinte ele foi, porém, continuamos a se corresponder através do correio e do telefone, agora já moderno, havendo aparelho em quase todas as casas. Durante umas férias resolvi fazer uma visita a antiga morada, lá chegando fiquei em casa da minha amiga, a ex. colega de serviço. Moacir sabendo da minha chegada logo veio me visitar, dali fui até a casa dele conhecer seus pais. Após uma semana retornei. Moacir ao despedir disse: qualquer dia irei até tua casa para conhecer teus pais. Quando ele completou 21 anos concluiu os estudos. Agora professor, foi visitar-me e sondar alguns concursos, onde ele pudesse se submeter. Hospedou-se em casa, papai e mamãe viram com bons olhos. Havia inscrição para concurso para professor na prefeitura, se inscreveu de imediato, submeteu as provas e foi aprovado. Eu com 28 anos, ainda solteira, ele com 22 começamos a um namoro, tempos depois noivado. Agora eu e ele professores na mesma escola, resolvemos ficar noivos. Com 2 anos de noivado resolvemos se casar. Eu com 30 anos e ele com 24. Hoje faz 10 anos que nossa união foi oficializada, continuamos lecionandos na mesma escola, sem filhos por opção. Somos felizes, somos religiosos, participamos com freqüência da igreja, papai e mamãe, com saúde, inclusive os pais do Moacir nos visita com freqüência. Ainda fico a pensar que o “Amor verdadeiro não tem idade”

Ourinhos março 2011 Nadir Ferreira da Silva

E-mail: nadirferreirasilva@hotmail.com
(Qualquer semelhança será mera coincidência)