A NOITE FATÍDICA

Nadir Ferreira da Silva 22/10/2010 - 15:49:44 Artigos

Logo ao amanhecer, o sol carrancudo dando a entender com seu gesto que alguma coisa estava para acontecer, isto após ele cumprir rigorosamente sua tarefa, fornecendo a todos a luz no decorrer do dia. Como todos sem distinção têm a missão sagrada a cumprir, o trabalho para atender as obrigações com a sociedade em que freqüenta e vive. Obedecendo este critério, alias justo para todos os seres viventes, logo ás 19.00 horas do dia 30 de setembro de 1975 apresentaram-se para cumprir sua escala de viagem, que estavam escalados destinados a cidade de Cornélio Procópio, os funcionários Pedro Luiz da Silva (maquinista) e Ismáil de Almeida Esturaro (ajudante). À noite como sempre gradativamente tomou conta de todos os ambientes, com sua carapuça totalmente negra, embora não desejando mal a ninguém, mais dado a sua natureza escura, todos a respeitam. Levando-se em conta que nem todos têm o privilégio de trabalharem exclusivamente sobre a luz do sol, cumprem suas obrigações em horários noturnos, às vezes desafiando o tempo e enfrentando as dificuldades surgidas no decorrer da jornada, porém, satisfeitos todos ao termino do serviço, afinal cumpriram sua missão honradamente. Porém, aquela noite, a viagem para aqueles dois ferroviários não teve o mesmo fim das muitas que estavam acostumados a realizar. Do sol carrancudo, a noite escura e tenebrosa que sempre desafiava, outro obstáculo viria a surgir, a chuva e o vendaval, este desafiando tudo e todos ao passar pelo seu trajeto, nada respeita, pois é originário e sem poder de raciocínio demonstra para nós que está cumprindo sua missão, curvando-se apenas em outros obstáculos que também é originário, mais nunca respeitando a vontade do homem. Já madrugada do dia 1o de outubro, houve uma voz estranha e bastante nervosa, alias com razão suficiente para o momento, ainda mais sabendo do que havia acontecido e pensando aflitivamente no que poderia acontecer... Aquela voz era o ferroviário de plantão na estação de Santa Mariana, que ao ser atendido pelo comando em Londrina, narrou: um forte vendaval que por hora faz-se aqui, os vagões vazios que estavam estacionados no desvio, empurrados pelo vento estão correndo lado da estação de Laranjinha. O plantão comando, imediatamente procurou alertar a estação de Laranjinha na tentativa de fazer com que a composição comandada que havia partido da estação de Bandeirantes fosse retida naquele local, evitando-se com isso as conseqüências que advinha caso as composições viessem a se chocar ao longo da linha. Todos os esforços foram em vão, parecendo que o acontecido já estava pré-determinado e o poder humano seria fatalmente vencido. 11 Apostos todos, sem quase nada a fazer, aguardavam ansiosos e rogando ao Criador que iluminasse aqueles dois irmãos que desconheciam totalmente o que estava ocorrendo e que a morte rondava suas preciosas existências. Embora o vendaval amainasse a chuva continuava insistentemente madruga afora. Avisado, saiu de Santa Mariana um funcionário da via permanente levando na mão uma lanterna de proteção a fim de percorrer o trecho, pois dado à situação do vendaval as comunicações também apresentaram defeitos e deixando o comando sem condições de controle. Pouco depois da saída, retorna aquele empregado ainda com a lanterna na mão, porém, agora já totalmente tomado pelo espanto e quase sem fala para relatar ao plantão da estação o que virá a olho nu, ao longo dos trilhos apenas um amontoado de vagões e locomotivas totalmente tombados e entre os escombros gritos agonizantes de pessoa pedindo socorro. Providenciado ambulância e médico, ao chegar no local do acidente foi encontrado o corpo do Pedro Luiz já sem vida, enquanto que o Ismail agonizava entre as ferragens retorcidas da cabine da locomotiva da qual viajavam. Ao ser atendido pelo facultativo Dr Cleon, logo veio a falecer, pois dado as condições da qual se encontrava não tinha nenhuma possibilidade de sobrevivência. Transladado os corpos para Ourinhos, residência de ambos, o Pedro foi sepultado no Cemitério local, enquanto que o Ismail, a pedido da família foi para Tomazina, onde está sepultado. Morrendo conforme nasceram estes dois ferroviários para quem com eles conviveram ficou a lembrança, dado as suas origens humildes, provavelmente lá no Céu junto a nosso Senhor, tiveram a acolhida que mereceram, recebendo espiritualmente as glorias da salvação. Como sempre relato os acontecimentos que acontece durante meu trajeto, hoje revendo meus arquivos, deparei com está mensagem que escrevi logo após o ocorrido. Como na época ficamos muito abalados, pois tínhamos nos dois colegas muita admiração. Estou enviando uma cópia ao meu amigo Gerson, filho do saudoso Pedro Luiz, enquanto que aos familiares do Ismail, perdi o contato, porém sua presença está presente em nossas orações. Hoje está fazendo 25 anos do ocorrido.
Ourinhos Outubro de 2010
Nadir Ferreira da Silva –
Na época exercia o cargo de encarregado do pessoal da RFFS/A.

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