ELOY JR., APITIDÃO NATA PARA GERIR JORNAIS HERDADOS DO AVÔ

AURÉLIO ALONSO 29/10/2012 - 08:20:20 Artigos

O jornalismo é uma aptidão que nasce com a pessoa. No interior, é pior ainda: uma grande escola para iniciantes e difícil para quem fica no ramo. É sofrimento, falta de dinheiro, incompreensões e quem vive disso só fica na profissão porque gosta. Junior Eloy é um exemplo dessa sina: escolheu o caminho como herança deixada pela família. E claro muitos problemas de saúde: o estresse leva a doença silenciosa da pressão alta até acabar em problemas cardíacos. Também tem as noites mal dormidas. Para quem pega uma folha de papel com as notícias muitas vezes não sabe como é difícil pôr um jornal, qualquer que seja, para circular. Pior ainda por 30 anos.

Ainda menino Juninho gostava de visitar o avô, seo Eloy, dono do Jornal da Divisa de Ourinhos que lutou com dificuldades e sustentou uma família inteira. Vi muitas vezes aquele garotinho brincando na frente do jornal na travessa da Euclides da Cunha, perto dos Correios. Nunca imaginei que um dia estaria administrando um jornal.

Juninho respirou jornal a vida inteira. Inicialmente se enveredou em cargo de assessor entre as gestões de Claury Santos e Claudemir Alves. Ainda novo, enquanto o pai (Luiz Carlos Eloy) penava para manter o Jornal da Divisa após a morte do avô, o garoto foi se virando. Até por uma daqueles impasses da vida foi tocar o Diário de Ourinhos (um semanário fundado pelo pai antevendo uma alternativa para o futuro do Divisa). Fazer jornal diário, semanário ou qualquer periodismo em cidade do Interior é penoso. Se não critica o governo é comprado, se decide ser independente a publicação vive sob censura financeira.

Na verdade, nem o pai e nem irmãos apostavam tanto no Eloysinho, “menino” novo, mas aos poucos ele por conta própria foi aprendendo como gerir o Diário de Ourinhos semanalmente (tinha que enfrentar até a crítica maldosa do semanário com nome de diário). Se socorreu na contratação de João Paulo, jovem jornalista talentoso, equilibrado, que preferiu ficar em Ourinhos, além de jovens jornalistas.

Aos poucos, Eloy Jr. foi ditando a dinâmica no jornal. Melhorou a diagramação. Procurou quem entendia do ramo para dar um design gráfico mais moderno. Convidou gente da cidade para escrever artigos, alguns conhecidos como o professor Norival Vieira da Silva, políticos, engenheiros e tantos outros.

Direcionou o jornal para o que convencionou de elite (novos ricos), se é que isso ainda existe em Ourinhos. Após o fechamento do Jornal da Divisa com pesadas dívidas (infelizmente quem faz jornal no Interior enfrenta mais dificuldades e nunca tem apoio do comércio; Ourinhos é conhecida como o “túmulo da publicidade” para divulgação na mídia impressa com uma elite empresarial predadora).

Eloy Jr. nunca escondeu os seus vínculos com o deputado Vinicius Camarinha de Marília, que o ajudava nas campanhas eleitorais na região e tinha em troca cargo de assessor. O Diário de Ourinhos, no entanto, sempre foi um jornal comedido e o diretor-proprietário herdou o estilo “bonachão” do avô para explicar essa vinculação política, aprendeu com os Camarinhas a dinâmica do homem público e soube com maestria transitar nas rodas sociais e políticas. Algumas vezes ganhou incompreensões: política em cidade pequena ferve. Quem perde o pleito acusa a pesquisa de opinião de favorecer o vencedor, a foto mal tirada prejudicou o perdedor do pleito, a notícia que não divulgou o candidato e outras difamações.

Mesmo sem gráfica própria conseguia manter o Diário de Ourinhos de terça a sábado com estrutura enxuta e uma logística de dar inveja: o jornal era impresso no Paraná a mais de 200 km. Apostou na Internet, a página eletrônica possibilitava acesso até para quem tem IPad e lançou uma revista (Ops).

Na última vez que o encontrei, estava animado. Acompanhado da namorada, dizia que o pai nunca acreditou que ele conseguiria “tocar” o Diário. Não estava reclamando e nem criticando. Isso só ajudou a se esforçar mais. Afinal, era jovem demais, mas tinha o tirocínio, a visão do avô e facilidade para aprender. Não se considerava jornalista, porém empreendedor que levantou a publicação, após as dificuldades enfrentadas pela família.

Recentemente esteve na Espanha e vivia o auge da vida. O deputado Vinicius Camarinha se elegeu prefeito de Marília o que o deixou feliz e tinha bom trânsito com a prefeita eleita Belkis Fernandes. A revista Ops trouxe na última edição uma entrevista com ela.

No domingo, Eloy passou mal e depois de duas paradas cardíacas e Acidente Vascular Cerebral silenciou. A sua morte prematura pegou todos de surpresa, como foi a sua vida em prol do jornalismo e do mundo de negócios da mídia interiorana, cada vez mais difícil e dependente de talentos como Eloy Jr. que só enxergamos quando morre, infelizmente.

Aurélio Alonso, jornalista em Bauru

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