CIGARRO É VALVULA DE ESCAPE PARA ADOLECENTES EM CONFLITO

da reportagem 20/07/2011 - 08:12:47 Artigos

Psicóloga aponta fatores desencadeadores do hábito de fumar e explica como os obstáculos da vida estão relacionados ao tabagismo

Atualmente o tabagismo é amplamente reconhecido como uma doença, constituindo a maior causa isolada de adoecimentos e mortes precoces em todo o mundo, os quais podem ser evitados. A dependência da nicotina obriga os fumantes a se exporem a mais de 4700 substâncias tóxicas, fator responsável pela causa de, aproximadamente, 50 doenças.

A dependência do cigarro é física, comportamental e psicológica, sendo que a dependência física é responsavel pela síndrome de abstinência e a liberação de substâncias que dão sensação de bem-estar; a dependência comportamental apresenta-se na forma de condicionamentos, rituais e associações ao ato de fumar; e a dependência psicológica é responsável pela sensação de ter no cigarro um apoio para lidar com sentimentos de solidão, frustração, pressões sociais e tensões do dia a dia.

Na adolescência, por exemplo, ocorre a fase das dúvidas, das transformações, da necessidade de aceitar a si mesmo e de ser aceito pelos outros, e o cigarro é usado para superar esta etapa conturbada. A maioria dos fumantes começa a fumar entre 13 e 16 anos. Nesta fase muitos adolescentes buscam no cigarro um apoio para momentos de dificuldade, para superar a timidez e conflitos de relacionamento, enfrentar as mudanças, pressões e exigências e, ainda, para buscar a própria indepedência ou pela simples imitação de comportamento.

Além disso, as empresas produtoras de tabaco, para atingir seu público-alvo e garantir clientela, vendiam e vendem o cigarro a preços acessíveis, ocultando os verdadeiros males que este causa à saúde. Durante muitos anos, através de propagandas, o cigarro foi anunciado como um meio de mostrar-se adulto e independente. A publicidade associava a mulher fumante a atributos de beleza, charme, sensualidade e emancipação, e o homem à coragem, vigor físico, sucesso e rebeldia, qualidades altamente valorizadas na adolescência.

Apesar da proibição das propagandas, esse conceito ainda é muito forte e presente nos dias de hoje, por isso, o cigarro adquire na vida do adolescente o papel de ajudante, companheiro e amigo, quando na verdade impede o enfrentamento de conflitos através dos seus próprios recursos e dificulta o seu desenvolvimento e amadurecimento.

O fumante acredita que suas habilidades estão vinculadas ao cigarro e que só realizará determinadas atividades com o auxílio dele. Na realidade, a habilidade é sua, mas por não saber distingui-la, atribui ao cigarro. Desta forma o fumante acredita que só pode criar se fumar, raciocinar se fumar e até manter relacionamentos somente se fumar e desenvolve associações e condicionamentos que são reforçados a cada cigarro que é aceso.

Por que o cigarro vicia?

A cada tragada, em aproximadamente 10 segundos, a nicotina chega ao cérebro e ativa os receptores da nicotina e imediatamente o cérebro libera as substâncias dopamina e serotonina, que dão sensação de prazer e relaxamento imediatos, promovendo a sensação de bem-estar. Com o passar do tempo, o organismo aprende que, ao fumar, haverá sensação de bem-estar e prazer que reforçam comportamentos. Sempre que descobrimos prazer em determinado comportamento, passamos a repeti-lo espontaneamente.

O vício relacionado ao cigarro se instala de forma lenta e sorrateira, ao mesmo tempo em que ocorre perda do autocontrole, negação da dependência e a necessidade compulsiva, onde a pessoa que fumava um cigarro passa a fumar cinco, depois dez e quando percebe está fumando um maço por dia. Após aproximadamente seis meses fumando, o ciclo de dependência da nicotina já se instalou no cérebro e a dependência é física, comportamental e psicológica.

A dependência psicológica precisa ser tratada tanto quanto a dependência comportamental e física, por meio de técnicas que envolvem o estímulo ao autocontrole, para que o indivíduo possa aprender como escapar do ciclo vicioso da dependência e a tornar-se independente (e agente) de mudança de seu próprio comportamento.

*Por Cláudia Nogueira, psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental

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