ASSOCIAÇÃO É RETIRADA DE IMÓVEL POR ORDEM DA PREFEITA

Jornal Debate 11/07/2012 - 13:02:44 Região

CIDADE — Sem ao menos avisar o presidente da Hatua, associação de catadores, administração retirou todo o material estocado em barracão

Após dez anos funcionando no prédio do antigo matadouro municipal, próximo ao Tiro de Guerra, no bairro São José, a associação de catadores de material reciclável Hatua recebeu duros golpes nas últimas semanas. Além do prejuízo estimado em cerca de sete mil reais provocado pela enchente de quarta-feira, 20, a entidade teve todo o material que estava estocado em sua sede retirado pela prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo entre sábado, 23, e segunda-feira, 25. A ordem partiu da prefeita Maura Macieirinha.

Foi com surpresa que o presidente da associação, José Rubens dos Santos, o “Baiano”, recebeu a notícia no sábado. “Eu não estava na sede da Hatua quando tudo começou. Dois funcionários trabalhavam na manhã quando a prefeita Maura Macieirinha veio pessoalmente e avisou que era para todos saírem porque tudo ia ser demolido”, contou Baiano.

Até então, nenhuma notificação havia sido enviada ao grupo de catadores. “Eles marcaram uma reunião às 14h, mas até então já haviam retirado muitas coisas que estavam estocadas. Não nos deram sequer um tempo para que pudéssemos separar o que era lixo ou não. Chegaram com as máquinas e foram retirando tudo”, contou.

Segundo Baiano, grande parte do material reciclável estava separado e embalado, mas foi levado para o aterro sanitário da cidade. No lote, estavam ferragens e cerca de 14 toneladas de cacos de vidro. “Muitas pessoas, inclusive catadores e funcionários da Codesan, foram até o aterro pegar o nosso material para vender”, reclamou.

O catador diz sentir-se humilhado. “Nós não invadimos esse terreno. Foi a própria administração que nos cedeu o local. Estou há 10 anos no comando e eles nem tiveram respeito. Disseram que o lugar seria interditado, mas como fazem isso sem qualquer aviso? Acabaram com tudo. Para mim, sobrou apenas o prejuízo e as contas a pagar”, disse.

Baiano calcula que as perdas financeiras ultrapassam R$ 15 mil. No entanto, o prejuízo não afetou somente a associação. Cerca de trinta pessoas que dependem diretamente da Hatua — entre empresas, catadores e funcionários — também estão sendo prejudicados. “Santa Cruz também perde. Nós fazemos um trabalho que poucos se atrevem a fazer. Afinal, quem quer trabalhar com lixo? A gente sobrevivia disso, tirávamos 90 toneladas de reciclável por mês. Agora está tudo parado nas ruas. Era um trabalho que prestávamos para a prefeitura e principalmente para a comunidade”, ressaltou Baiano.

O presidente da Hatua, porém, pretende fazer valer seus direitos. “Vou entrar na Justiça contra a prefeita e já procurei um advogado. Fui humilhado. Não quero justificativas, mas que ela arque com dtodo o prejuízo. Acredito que a Justiça vai dar ganho de causa a quem está certo. Aliás, a prefeita só não levou as árvores porque não era possível”, lamentou.

O catador receia que os fatos selem o fim da Hatua. “Estamos na beira de um abismo e não sei como será nosso futuro. Mas não é por isso que vou parar de lutar. Não vou desistir”, afirmou.

Interdição

De acordo com informações da assessoria de imprensa da prefeitura de Santa Cruz, a decisão de desalojar a Hatua e retirar todo o material foi adotada por uma questão de saúde pública. “Conforme laudo do engenheiro sanitário, o material que estava no local era de descarte, segundo informação do próprio presidente da Hatua, durante reunião feita no último sábado, na parte da tarde, nas dependências do Tiro de Guerra, com a presença da Defesa Civil”, afirmou o órgão, em nota encaminhada ao jornal.

Questionada sobre a retirada da Hatua e a possibilidade de cessão de novo espaço para seu funcionamento, a administração foi irônica e limitou-se a responder que “não há conhecimento no município de que haja qualquer associação de catadores”.

Por telefone, a secretária Ordalice Fátima de Souza Piasentine explicou que o terreno foi interditado porque encontra-se impróprio para moradia e trabalho. O local fica em Área de Proteção Permanente (APP) e deverá ser reflorestado.

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